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Entrevista com Daniel Vazquez, Head of Growth da Nym Tech na América Latina

Tradução: Luma Virgínia


Daniel Vazquez é o Diretor de Crescimento (Head of Growth) da NYM Tech na América Latina. Além de ser um hacktivista apaixonado e um ativista tecnopolítico, ele também é um fervoroso defensor do software livre, da segurança cibernética e das telecomunicações. Durante quase três décadas, tem sido um membro ativo de diversos movimentos sociais e tem participado de uma ampla variedade de espaços. Liderou projetos de pesquisa em diversos países, com foco na economia do conhecimento, e colaborou estreitamente na formulação de políticas públicas relacionadas a esses temas.

OBCRYPTO: O que é NYM? Você poderia nos apresentar a empresa?

DANIEL VÁZQUEZ: A NYM Tech é uma empresa tecnopolítica de segurança cibernética e blockchain que aspira construir tecnologia para facilitar o retorno do direito à privacidade ou ao anonimato nas telecomunicações em nível global. Seu foco se concentra em solucionar o problema do vazamento de metadados nas comunicações. Isto é conseguido usando uma mixnet, uma rede de mistura semelhante à usada pelo Tor, mas com uma camada adicional de segurança que inclui a introdução de pacotes falsos, a alteração da cronometragem dos pacotes e a modificação de todos os pacotes para que tenham o mesmo tamanho, o que impede a análise por padrões de tráfego para identificar usuários. Além disso, a tecnologia NYM usa blockchain e token para recompensar todos os atores envolvidos no processo. As pessoas que possuem os nós da mixnode podem receber recompensas em tokens por misturar os pacotes e facilitar o anonimato dos usuários. Eles também implementam um sistema de “conhecimento zero” para a aquisição de tokens, de modo que ninguém sabe quem adquire os tokens ou como o faz.

OBCRYPTO: Qual é a história e os valores por trás do projeto tecnopolítico da NYM? 

DANIEL VAZQUEZ: A NYM surge como uma resposta tecnopolítica criada por uma geração de cyberpunks que, ao longo dos anos, amadureceu e se concentrou em encontrar tecnologias que garantissem a privacidade nas telecomunicações. Durante três décadas, esta geração acumulou experiência e propôs uma estratégia para atingir o seu objetivo de proteger a privacidade. Por trás deste projeto está o CEO Harry Halpin, que anteriormente trabalhou para Tim Berners-Lee e foi professor no MIT. Halpin tinha um profundo interesse nas mixnets e também esteve envolvido na Internacional Progressista, demonstrando um histórico sólido na tecnopolítica e na defesa dos direitos. A colaboração de Halpin com Chelsea Manning, uma consultora em otimização de hardware e ex-analista de Inteligência, levou à busca por uma solução baseada em mixnet, mas com necessidade de melhorias tecnológicas significativas. Talvez Maning, a partir de sua experiência como Analista de Inteligência, tenha entendido a importância de abordar a privacidade das pessoas de uma forma mais segura. Com essas propostas, buscaram recursos no crescente universo da web 3 e da tecnologia blockchain para financiar o projeto, o que facilitou de alguma forma a criação de um modelo que recompensasse todos os participantes e permitisse o desenvolvimento profissional de alto nível

Eles encontraram investidores dispostos a fornecer capital para reunir criptógrafos, especialistas em desenvolvimento de software e pessoas com uma formação técnico-política muito forte para realizar o projeto. Sua preocupação em enfrentar a erosão que hoje sofre a privacidade da humanidade também desperta meu interesse em contribuir para estabelecer essa privacidade  by default na Internet.

OBCRYPTO: Qual é o papel da criptografia na infraestrutura da internet hoje?

DANIEL VÁZQUEZ: É um papel de alto nível, sem dúvida. Se boa parte da humanidade se comunicasse por canais digitais sem criptografia, muitos problemas surgiriam. Em primeiro lugar, não haveria privacidade e, sem ela, como efeito colateral, não haveria ou se alterariam muito os fluxos de inovação. Para poder inovar, é necessário privacidade, e a falta de criptografia tornaria impossível a inovação. Mas também altera as relações sociais, as relações económicas, põe em perigo a vida das pessoas, impossibilita debates sobre temas que ainda não são socialmente aceitos. Lembremos que a sociedade avança com empurrões de alguns “malucos” em alguns temas. O que pode ser considerado tabu e indesejável em determinado momento, torna-se normal e transformado em direito após algumas décadas. É necessário proteger as pessoas que trabalham para construir ou desenvolver os seus direitos. Sem criptografia isso não poderia ser feito. É preciso estar muito atentos, porque existem entidades globais que querem que a criptografia seja fraca. Por exemplo, o protocolo GSM nasceu criptograficamente quebrado. A razão pela qual este protocolo é usado como padrão e se espalha dos Estados Unidos para outros países, é porque a criptografia GSM é forçada a ser fraca para quebrá-la, e então, digamos que joga um pouco com as cartas marcadas. Há pessoas que conseguem quebrar a criptografia a diferentes níveis e há governos que destinam imensas quantias de dinheiro para quebrar a criptografia, para os seus próprios interesses, monitoramento, inclusive para a espionagem industrial, sabotagem de grandes contratos públicos, de compras de aviões internacionais de países, que são casos que conhecemos. Dessa forma, o papel da criptografia na infraestrutura da internet é proteger muitos direitos e garantir novas possibilidades para a humanidade. Agora, temos sistemas para computadores que são capazes de quebrar os sistemas clássicos de criptografia em um tempo muito curto, e então a criptografia quântica começa a combater isso. Sempre haverá uma batalha entre pessoas e sistemas para alcançar novas inovações que permitam essa privacidade, e outros pressionando para poder quebrá-la para proteger os seus próprios interesses.

OBCRYPTO: Na CPDP Latam você falou sobre um mercado de privacidade da informação. Você pode falar mais sobre isso?

DANIEL VAZQUEZ: Infelizmente a privacidade tem se convertido em um bem de mercado. Digo “infelizmente” porque é um direito e os direitos não deveriam ser um bem de mercado. A lógica majoritária neste momento é a lógica do capital, que abandona certos direitos para que o sector privado os tome como um mercado. Podemos ver a cada dia como avança a luta pela privatização da saúde pública e da educação pública. São direitos humanos que aos poucos os Estados abandonam à lógica do mercado para que os explorem. A privacidade não é um direito universalmente reconhecido, ainda que a sua violação seja, obviamente, uma grave consequência coletiva. As pessoas não têm muita clareza sobre o que isto significa, e não se desenvolveram regras para proteger as pessoas à medida que cresciam os sistemas de comunicação que facilitavam a espionagem em massa. Em vez de acompanhar este crescimento com direitos, simplesmente foi permitido que ocorresse o que está acontecendo.

Esse mercado da privacidade o estimamos aproximadamente em 100 bilhões de dólares na esfera digital. Ele está dividido em três partes: o mercado de proteção de dados, que representa aproximadamente 70 bilhões de dólares estadounidenses; o mercado das VPN e soluções similares, que consome cerca de 25 bilhões de dólares por ano; e o mercado da privacidade para transações criptográficas, que é muito recente, mas já ultrapassa os 5 bilhões de dólares anuais.

Então, para nós, dos movimentos sociais e das organizações populares, não conseguimos resolver o problema da privacidade. Portanto, a NYM aplica todas essas soluções e acrescenta camadas de criptografia, e entra nessa lógica de combate das empresas, porque entendemos que a luta deve acontecer em todos os setores: na tomada do governo, na construção de organizações econômicas, na construção e no fortalecimento de organizações  autônomas de base, todas as formas de lutar para aumentar a privacidade e os direitos das pessoas são válidas. A NYM é uma aposta por fazer desde o setor empresarial, por participar na disputa do mercado também, e criar uma instituição sólida capaz de financiar a tecnologia para que possa atender centenas de milhares ou milhões de pessoas.

OBCRYPTO: Na América Latina temos grande instabilidade política e governos autoritários recorrentes na história. Além disso, também temos limitações nas condições de acesso de uso. Então, como você entende esse mercado de privacidade na América Latina e quais desafios você acha que devemos superar para consolidá-lo?

DANIEL VAZQUEZ: Bom, é difícil, porque a região realmente tem áreas escuras e áreas de baixa conectividade, além de preços altíssimos e cortes de serviços, isso é certo. Quanto à questão dos governos autoritários, bem, são Estados reduzidos artificialmente. Aqui no Equador, por exemplo, aqueles que venceram as eleições anteriores promoveram a ideia de que o Estado era demasiado grande e que tinha de ser diminuído e reduzir seu poder. No entanto, as consequências de que o Estado tenha menos poder se reflete no fato de, atualmente, sermos o país mais violento da América Latina. A violência multiplicou-se para números historicamente impensáveis ​​neste país, e estamos a bater recordes de violência carcerária, pobreza e migração em apenas um ano e meio. Isso, como resposta, dá lugar a figuras autoritárias que aparecem para resolver estes problemas, porque como o Estado não tem capacidade suficiente, aparecem salvadores que se oferecem para o fazer. Tudo isto afeta profundamente as sociedades latino-americanas.

Com a questão da privacidade, as pessoas têm buscado por elas mesmas uma saída, e cada uma adotou abordagens individuais de “salve-se quem puder”. Alguns compram VPNs, outros Protonmail e muitos recorrem ao Tor. Eles fazem isso porque sabem que qualquer atividade que possa prejudicar os interesses do narcotráfico, das empresas mineradoras ou de determinados políticos pode resultar em repressão, seja na forma de repressão leve ou dura, e até mesmo em assassinatos, desaparecimentos, que infelizmente também são comuns na região.

As pessoas procuram soluções para trabalhar, coordenar e organizar. O problema já não é apenas que te espionem por meio das comunicações. A possibilidade de que infectem seu computador ou seu celular é cada dia maior. A criptografia nos serve para tanto, quando captura cada tecla que você digita e o que você vê na tela.

As comunicações passaram a camada de criptografia até o usuário, e a comunicação já está descriptografada no seu dispositivo e pode ser vista lá. Isso tem uma solução difícil, porque a computação costuma apresentar múltiplas falhas e é muito difícil ter dispositivos que protejam suas comunicações a esse nível. Existem opções, mas não são confortáveis ​​nem fáceis, como trocar celulares e chips de tempo em tempo, não armazenar as informações ou fazê-las se autodestruir. Estas funcionalidades ajudam a reduzir o volume de informação que capturam de nós que queremos evitar que haja denúncia social.

Dessas formas, nós não podemos mais do que facilitar outra camada de criptografia que impeça o governo de acessar as comunicações. Também depende do nível de problemas que as pessoas estão dispostas a enfrentar. Se há pessoas que vão, como Julian Assange, para a batalha global para combater os maiores impérios militares e financeiros do planeta, você vai precisar adicionar todas as camadas de segurança do planeta que você conseguir colocar por cima. Se você pretende trabalhar no bairro porque quer construir uma ciclovia, é outro nível de segurança que você precisa.

Infelizmente, todo dispositivo eletrônico de comunicação é inseguro por natureza, e isso é um problema sério. Podemos reduzir a análise em grande escala e as análises externas.

É engraçado, muitas comunicações aqui no Equador saem da minha casa, vão até o prédio do outro lado da rua, mas passam por Miami. Assim, questiona-se como estão organizadas as redes de telecomunicações. Muitas de nossas comunicações vão para Miami e voltam para nos comunicarmos dentro de nosso próprio país ou com o país vizinho. É aí que se faz a captura massiva da informação, a quebra da criptografia que podem, a análise e a busca de padrões, e a busca pelo que eles andam procurando.

Portanto, a criptografia sim nos protege realmente, mas não torna você invulnerável. É uma barreira contra aquela grande rede global de espionagem que captura tudo. Tem gente, eu vi vários relatos, que falavam de que o tráfego de internet é capturado 100%, e já faz 2 ou 3 anos, ou 4 anos, eram capazes de armazená-lo por quase um mês. A partir daí, quando querem procurar alguma coisa, vão lá e procuram. Infelizmente, para eles, eles têm que sobrescrevê-los com novas informações porque não podem armazenar tanta coisa. Mas o tráfego global está sendo capturado como se capturam 100% das chamadas de telecomunicações.

Isto é algo que acontece na Europa, é uma exigência legal. Ou seja, a lei exige que 100% das ligações telefônicas sejam gravadas. O antigo método de escutar um telefone não é mais o que costumava ser, onde colocavam um microfone no telefone. Agora, as autoridades estão solicitando ao juiz uma ordem judicial para que a operadora entregue uma ligação sua de um ano e meio atrás que foi gravada. É assim que eles obtêm essas informações, sem precisar instalar um Trojan. Por esse motivo, recomendamos não ligar, não usar ligações normais de celular, mas sim sistemas de criptografia de ponta a ponta que tornam muito mais difícil que eles nos investiguem.

Além disso, quem garante que as operadoras de telecomunicações que armazenam milhões de chamadas não as repassam à inteligência artificial para analisar a todos nós e descobrir qual a melhor forma de nos vender um produto? Na melhor das hipóteses, estamos sendo explorados comercialmente, mas há situações muito piores. No entanto, na América Latina as pessoas quase já não fazem chamadas telefônicas, pois se comunicam através do WhatsApp, o que dificulta a capacidade dos Estados de realizarem vigilância. É muito complexo e não existe uma solução única, mas tem havido avanços positivos.

OBCRYPTO: NYM é membro da AC-LAC. Então, na sua opinião, quais são os principais desafios que  NYM vê em nossa região para o uso dessa criptografia forte?

DANIEL VAZQUEZ: Assim que soubemos da AC-LAC, pedimos para aderir, porque entendemos que temos que lutar em muitas frentes e com numerosos aliados. É essencial uma organização regional nas Américas e no Caribe que lute pela defesa da criptografia. Sua conexão regional é essencial.

O que vemos é que existe uma agenda para enfraquecer a criptografia extrema, permitindo a intervenção. Acreditamos que organizações como a AC-LAC podem trabalhar para construir uma consciência pública que defenda a criptografia, que façam com que os legisladores que tentam alterar, eliminar ou enfraquecer a criptografia enfrentem consequências políticas. Não só acreditamos que podem gerar um custo político, mas também podem propor legislação que vá na direção contrária. Isto significa promover e reforçar esse direito, incorporando-o na legislação nacional e regional, acrescentando mais salvaguardas para dificultar a vulnerabilidade e a redução das possibilidades de interferência.

Na Europa, você deve ter notado que recentemente houve diversas tentativas de enfraquecer a criptografia extrema em aplicativos. É precisamente por isso que organizações como a AC-LAC, que se dedicam especificamente à defesa da criptografia, nos parecem maravilhosas. Como temos uma forte presença na região, com sede no México, mas também no Brasil, Costa Rica, Equador e Colômbia, decidimos imediatamente aderir e contribuir o máximo possível.

Como mencionei acima sobre governos autoritários, é apenas uma questão de tempo até que a criptografia se torne um obstáculo para eles e eles tentem minar. Portanto, operar a nível regional e tentar incorporar estes regulamentos na legislação regional torna difícil aos Estados-Membros minarem estas medidas. Esta é a importância da AC-LAC e o desafio que deveríamos assumir coletivamente.

OBCRYPTO: E o que podem fazer os diferentes setores da sociedade neste cenário de que estamos falando? Principalmente o setor privado.

DANIEL VAZQUEZ: Há uma colega na Espanha chamada Marga Padilla, e ela tem uma fala muito bacana sobre a história da criação da internet. Ela a define como uma aliança monstruosa entre pessoas muito diversas e opostas. Quando a internet nasceu, era uma ideia de como construir uma rede de comunicações que suportasse qualquer cenário, mesmo numa época marcada pelo medo da guerra nuclear. Essa ideia um tanto disparatada foi circulada até chegar às universidades com financiamento da ARPANET e fundos militares para desenvolvê-la. Graças a esses recursos nas universidades, os técnicos que trabalharam no projeto agregaram outras funcionalidades à rede além de sua invulnerabilidade. Injetaram outros sonhos nele, fizeram horas extras e acrescentaram outras funcionalidades. Entre essas pessoas estavam programadores, doutores em direito, punks, letristas musicais que tomaram ácido lisérgico, militares e muitas pessoas diversas que ajudaram a estabelecer as bases do que hoje conhecemos como Internet. Muitas vezes, as pessoas não têm consciência de que todos esses atores também estiveram envolvidos no seu desenvolvimento.

Acho que algo semelhante acontece com a defesa da criptografia de ponta a ponta. Há uma aliança monstruosa que inclui o sector privado, capitalista, feio e duro, que tem interesses em jogo. Existem também empresas políticas como a NYM, mais ligadas ao cypherpunk e à agência de direitos humanos, bem como organizações militares de base. Todos eles têm interesse na sobrevivência da criptografia.

Nós temos o interesse de proteger as pessoas, tanto individual como colectivamente, tanto nas comunicações, como na informação financeira e em outras utilizações que as blockchains estão tendo. No mundo criptográfico existem diferentes tendências, mas gostaria de mencionar duas em particular, o solar punk e o lunar punk. O Solar punk representa uma estética com edifícios cheios de vegetação e natureza integrados à cidade, além de ênfase na energia solar e na redução da poluição. Dentro do mundo criptográfico, algumas pessoas têm adotado esse conceito e acreditam que a transparência das blockchain, que funciona como um livro contável público, pode fazer que o mundo seja melhor se for transparente e tudo for distribuído e não concentrado.

Por outro lado, o lunar punk é um pouco mais cético e diz: bom, não sejamos tão ingênuos. Não devemos mostrar a carteira na rua para que todos vejam quanto dinheiro temos, por questões de segurança e por muitas outras razões.

Então, talvez não seja uma boa ideia que o sistema global saiba das nossas transações. Quando você ia à sua vizinha comprar um suquinho na rua ou algo para comer, você dava algumas moedas para ela e o Banco Central do Brasil não sabia que você havia feito uma transação com aquela pessoa. Nem mesmo o Banco sabia. Porém, quando você agora faz microtransações no nível digital, o Banco Central e outro banco sabem disso. O problema não é que eles saibam disso, o problema é que em grande escala eles fazem análises inteligentes sobre essas transações para ver como nos controlar, como dirigir nossas vidas, como nos fazer sentir desejos de compra e muitas outras coisas. Então, aí lutamos pelo que chamamos de direito ao dinheiro digital. Isto significa que você tem o direito, em nível digital, de fazer pagamentos e micropagamentos sem que o banco descubra e que não exista uma blockchain pública onde isso seja acessível. É aí que a NYM entra em ação para facilitar o anonimato de 100% nas comunicações de transações de criptomoedas. Agora não é. Agora não é. A menos que você use NYM.

Mas já tem gente desenvolvendo tecnologias Dark Fi, tecnologias financeiras obscuras, indo para o tema Lunar Punk, da noite e da escuridão. Isso permite que as pessoas façam microtransações onde ninguém sabe quem é quem ou por qual valor elas fizeram a transação, mas todos confiam que a transação ocorreu. Porque não esqueçamos que dinheiro é confiança. Se as pessoas confiam que essa transação ocorreu, mesmo que não saibam entre quem, essa transação tem valor e esse valor é reconhecido. Mas a criptografia é uma ferramenta capaz de garantir a confiança das pessoas nas operações financeiras e uma ferramenta capaz de proporcionar privacidade nessas transações.

Há aqui um debate ético gigante, mas é algo que está acontecendo e onde milhões de jovens estão entrando todos os meses. E se nestes espaços as pessoas não se envolverem para fazer política social  a única mensagem que os jovens que lá entram recebem é a do neoliberalismo selvagem e da especulação financeira, quando estas tecnologias seriam úteis para outras coisas. Tem que se meter a fazer política aí. Dizem que um revolucionário deve estar onde as pessoas estão. Bom, milhões de jovens estão entrando no mundo criptográfico e a esquerda, por ignorância, por purismo e por não fazer um trabalho intelectual, está desprezando esse espaço e está deixando-o para o capital selvagem especulativo. Isto é um erro político.

Termino com quatro frases que são basicamente: liberdade para Assange, indulto para Snowden, transparência para os ricos e privacidade para todos nós.

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